Desculpa, Tarantino.

As luzes se apagam. O trailer começa e as últimas pessoas entram na sala. Carregam pipocas, falam alto e demonstram uma excitação para ver o filme que está para ser exibido. Eu aperto a mão dele, sorrio no escuro. Posso ver que seus olhos também estão atentos à telona e as mãos fazem um movimento contínuo de buscar pipoca no balde e voltar para a boca. Eu me detenho nos dentes, imagino ele me mordendo e não demora dois minutos pra começar a pensar putaria. A sala nem está tão vazia assim, mas já passei a fazer meus cálculos. Uma putaria no lugar certo e tudo vira festa. Quando os primeiros quinze minutos se passam e a minha malícia ganha da vontade de prestar atenção num enredo arrastado que vai nos levar pelas próximas três horas ali dentro, passo a brincar com ele. No começo, protesta. Depois, sinto o volume da calça e digo baixinho no ouvido dele “fica vendo teu filme aí e deixa eu me divertir”. É a vez dele de sorrir só com a luz do cinema clareando seu rosto e eu consigo ver claramente como que as pupilas se dilatam e passam a gritar “tu é uma safada mesmo”. Sempre fui, nunca neguei. Me conheceu assim, me pediu em namoro assim, agora me aguente assim. Quando comprei os lugares, eu juro, nem pensava que poderíamos fazer aquilo tudo. Mas agora que o pau dele preenchia a minha mão e eu começava a bater uma ali mesmo, olhava pra ele pensando que nada era por acaso. Percebendo que muitos do que estavam mais próximos nem se ligavam em nós, no canto da sala, desci minha cabeça, passeei minha língua naquela cabecinha maravilhosa e engoli tudo. Ri dizendo no ouvido dele que não poderia gemer (e ele gostava de gemer sentindo prazer e me deixava maluca com isso). Quando explodiu em gozo, deixando cair metade do havia sobrado do saco de pipoca, tomei tudo e fiz questão de não deixá-lo todo sujo com a porra. “Te dei essa moral”, impliquei. O filme acabou, levantamos e eu disse “corre pra casa que eu preciso de você mim”. E ele sorriu. Aquele boquete era só o começo do sexo. O resto seria na cama. De preferência tão longo quanto aquele filme que demorou tanto pra não me dizer nada. Desculpa, Tarantino.

[ Gustavo Lacombe ]

Quer me ler mais? Leia meu livros! Compre aqui:
http://www.gustavolacombe.com.br/livros

Deixe um comentário

Site criado com WordPress.com.

Acima ↑